
Uma mulher sem tantos planos. Era assim que a própria Laura se definia até dois anos atrás.
Nunca tinha pensado que um dia moraria na Espanha. A ideia era ficar perto da família, fazer alguns cursos e trabalhar e morar na cidade onde nasceu, em Petrópolis, no Rio de Janeiro.
Ela realmente imaginava que sua vida seria construída ali, nos locais conhecidos desde a infância. Não queria nada mais além da tranquilidade de levar uma vida que já conhecia.
Como veio a ideia de morar na Espanha?
De uma forma avassaladora, ela se apaixonou pelo Diogo, alguém que também não tinha tantos planos.
E quando tudo parecia se encaminhar para uma vida pacata a dois, os apaixonados encontraram uma nova paixão: Madrid, através de tudo que viram em alguns filmes e na série La Casa de Papel.
Se encantaram com a Espanha, pesquisaram e pensaram: por que não morar na lá?
E desde esse pensamento, não houve um dia em que não se imaginassem conhecendo o país. Então, começaram a pesquisar, a anotar ideias e a sonhar juntos.
Assim, o que era para ser uma viagem de casal se transformou em um grande plano de vida, para aqueles dois que não planejavam nada.
Como ambos trabalham no modelo remoto, não demorou para concluírem que era possível se adaptar. Conversaram nas empresas, viram as possibilidades e não pensaram muito para embarcar na maior experiência a dois que nunca tinham cogitado antes.
Mas, tudo foi acontecendo em um ritmo tão acelerado que não demorou para a Laura fazer as malas e embarcar com o seu amado para morar na Espanha.
A princípio, tudo era encantador. Se perder pelas ruas de Madrid, descobrir os sabores intensos das comidas e bebidas e ver o pôr do sol de um ângulo completamente novo. Tudo era novidade.
Mas, não demorou para que a saudade começasse a se infiltrar entre as brechas desse novo mundo. A primeira vez que sentiu o aperto no peito foi quando sua mãe ligou para contar sobre o aniversário da avó.
Uma ligação cheia de vozes ao fundo, risadas e conversas sobre o passado e o presente, enquanto ela estava do outro lado da linha, tentando esconder a vontade de chorar.
Se antes aquela festa era comum e sem tanta importância, agora parecia um evento indispensável.
Lidando com a saudade
Os dias passaram e ela começou a perceber que morar na Espanha, longe de seu país de origem, não era exatamente como em séries, fotos ou vídeos que via antes de mudar.
É claro que existiam vantagens, como a liberdade de viver em uma cultura nova e a chance de aperfeiçoar o espanhol.
Havia, também, a beleza da vida com o Diogo, dos novos planos feitos ao pôr do sol e das risadas em bares onde se encontravam com outros amigos expatriados.
Mas, mesmo assim, cada benefício parecia vir acompanhado de uma desvantagem, como um equilíbrio estranho e inevitável.
Em uma noite, Laura se pegou pensando se não teria trocado a familiaridade pela incerteza. Em vez dos rostos conhecidos do seu bairro, ela encontrava estranhos em um idioma que ainda tropeçava para dominar, e cada erro de pronúncia vinha com um toque de insegurança que ela não costumava sentir em português.
Também tinham as festas típicas da cidade que, embora lindas, pareciam feitas para outras pessoas. Cada festival espanhol era uma lembrança do famoso Carnaval carioca que ela tanto amava.
Não tinha jeito. A saudade começou a se transformar em uma sensação constante de falta. E isso começou a pesar em sua saúde mental.
A ansiedade que antes era esporádica tornou-se uma visitante frequente, e, em alguns dias, Laura não queria sair do apartamento, sentindo-se pequena em um lugar que parecia grande demais para ela.
Se acostumando a morar na Espanha
Foi nesse momento que procurou ajuda de uma terapeuta brasileira, que atendia à distância, e percebeu que, para estar bem, ela precisava reconstruir o conceito de casa dentro de si mesma.
Não foi fácil. Ela começou devagar, mas abriu o coração para as novas experiências trazidas pela escolha de morar na Espanha. Assim, com o tempo, criou uma nova rotina que a ajudava a lidar com os dias difíceis.
Encontrou novos lugares preferidos, fez novas amizades, construiu memórias incríveis em seu relacionamento e descobriu que podia manter suas tradições vivas de maneiras criativas e sem se esquecer de quem ela era.
Aos poucos, Laura percebeu que a saudade ainda estava lá, mas não da mesma maneira. Agora, era uma saudade que havia se transformado em um sentimento mais leve, quase doce, como uma lembrança de um lugar querido.
E com isso, aceitou que viver fora era difícil, mas possível, e talvez essa saudade nunca fosse embora completamente.
Mas entendeu que podia, sim, conviver com a saudade, como uma companheira que trazia a lembrança de onde ela veio e a coragem que precisava para seguir adiante.
Assim, encontrou um novo lugar para chamar de lar. Um lugar cheio de sonhos, para quem não tinha planos, e agora se orgulha de criar uma nova história que mistura o que foi, o que é e o que ainda planeja ser.